Ela que vêm como um vulcão. Me instiga a sair da casca, pede colo, pouso manso, invade, destrói, purifica. Chega ela com suas labaredas dançantes, me tira da cama, sopra meus cabelos, me convida para dançar. Mexe as vestes, o ventre, a vida, mexe as dores, os medos e as suposições. Não tem meio termo, idealização ou expectativa. Ela me convida, sem chance de dizer não, um retorno à visceralidade do corpo em chamas. Eu incendeio. Às vezes me falta ar. Logo ela, senhora dos trovões. Mãe das catarses, companheira dos vilões. Ela me convida a ser corajosa, a defender meu território, a ser tigresa, rugir alto, mostrar os dentes, soltar a voz, gargalhar sem medo. E então… Eu saio dos moldes, perco o rumo, desfaço agenda, fujo do trivial, danço com o caos. Serotonina, hormônios, fluídos e prazer. Eu mexo o corpo, purifico a casa, canto com as ervas, arrumo o altar. Cutuco a ferida, olho nos olhos dos meus medos, nomeio, chamo pra tomar um chá. Sou indecisão, labareda e vulcão. Me sinto em chamas. Me sinto fêmea. Me sinto humana.
Ela vêm como quem não quer nada e me convida com um sorriso malicioso a ser minha própria tempestade. Molha, deixa molhar.
“Minha filha, é do caos que nasce a ordem. É da lama que a lótus vêm. Olha pra onde dói e encontra força. Tua cura são teus medos e só quando você se perde que é capaz de se encontrar.”
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