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Foto do escritorMarcelle Cordeiro

O meu sangue é fonte de VIDA

Cerca de 5 anos atrás eu comecei a plantar a minha lua. o ato de devolver o sangue menstrual para terra foi um divisor de águas na relação que tinha/tenho com o meu corpo e com a minha menstruação hoje.


É difícil identificar quando e como esse ato se deu, quando foi que as mulheres começaram a plantar a sua lua?


Acredita-se que nossas ancestrais tinham o hábito de sangrar livremente e deixar o sangue retornar para terra. Fosse pelo fato de que não existiam absorventes na época e porque a vida na sociedade era predominantemente ao ar livre; isso fazia com que no período de lua essas mulheres sangrassem livremente em conexão com a terra, permitindo que esse sangue escorresse.


Existem também indícios de que nas culturas norte americanas dos povos originários a menstruação e o feminino foram sempre reverenciados e visto com muito respeito e mistério. Diz-se que naquelas tribos há muito tempo, as mulheres tinham ao seu dispor o que chamavam de “tenda da lua vermelha”, uma tenda onde as mulheres se reuniam em seu período de lua. O momento da menstruação era visto como um período sagrado e importante para as mulheres, sendo necessário esse momento de recolhimento e descanso na tenda para que retornassem à luz da lua crescente mais dispostas e com respostas. Após o retorno e o término da menstruação, as mulheres traziam mensagens e direcionamentos para as tribos. por isso, o momento de sangramento de uma mulher era reverenciado de um contexto espiritual-social. pois a mulher que sangrava era um portal entre dimensões e comunicações sutis, ela era a portadora do mistério e canalizava tais mensagens da espiritualidade com o objetivo de auxiliar a comunidade.


Há pouco tempo vemos um crescente movimento de reconexão com o corpo e uma necessidade urgente de dissolver os tabus da menstruação. Um ato natural e orgânico do corpo passou a ser visto de maneira negativa e estigmatizada pela sociedade patriarcal. Passamos a ser ensinadas desde pequenas à olhar para a nossa menstruação com vergonha e receio, nos sentindo desconcertadas por sangrar; muitas vezes é até mesmo difícil falar a palavra MENSTRUAÇÃO sendo usados termos como: “tô naqueles dias” ou “tô de chico"... Isso demonstra as inúmeras barreiras e muros que foram construídos acerca do corpo e dos processos orgânicos naturais que ele desempenha. Menstruar é natural e faz parte dos processos do corpo. Precisamos naturalizar a menstruação para que possamos identificar problemas sociais e buscar melhorias tanto na falta de informação, como nos estados de pobreza menstrual que muitas pessoas vivenciam no Brasil.


O ato de plantar a lua nos auxilia a transformar a crença de que o “sangue é sujo e impuro” para o “sangue é limpo, nutritivo e cheio de vida”. Quando devolvemos o nosso sangue para terra afirmamos para o nosso inconsciente a sacralidade e importância desse fluído e desse ato. Mudamos o paradigma. Não estamos apenas jogando o absorvente descartável no lixo e fingindo que não estamos menstruadas, com a falsa sensação de que assim não iremos lidar com isso. Mas a partir do ato-ritual de oferecer o sangue à terra afirmamos para nós mesmas que sangrar é importante. que é um ato sagrado e que merece ser ritualizado. Ao despejar o sangue na terra ou nas plantas, abrimos espaço para que o ciclo de vida-morte-renascimento continue. A morte do óvulo não fecundado e das camadas uterinas se transformam em nutriente e alimento para as plantas que crescem da terra.


Plantar a lua é um ato de amor e reverência à terra e ao nosso corpo.

Sangrar com amor, dignidade e acessibilidade é um direito de todes.



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