Houve um tempo em que as mulheres eram veneradas e reconhecidas como parte primordial e essencial do mecanismo da vida. Antes mesmo do patriarcado existir, as sociedades veneravam e cultuavam a energia primordial reconhecida como: A grande Deusa, ou a grande Mãe. Nesse tempo, anterior à religião, os seres humanos viviam em plena comunhão e convivência harmônica com todas as formas de vida, os animais, as florestas, as inúmeras espécies de plantas, as formas mais inanimadas de vida eram reconhecidas como parte integral desse mecanismo misterioso e surpreendente que é a natureza.
Não existiam matanças, nem guerras e muito menos a busca pelo poder. Havia sim seus desafios como sociedade, mas entendia-se o lugar intransferível de cada forma de vida e que a harmonia era o estado natural de existência. Observava-se uma grande semelhança entre a Deusa, a mulher e a terra. Ambas tinham o poder de gerar, gestar, nutrir e parir a vida. O corpo de uma mulher era atribuído à algo misterioso e sagrado, observava-se que a mulher movia-se como a lua. Havia o tempo de recolhimento e morte na lua nova junto da menstruação e o tempo de festejo, colheita e alegria na lua cheia junto da ovulação. A mulher era vista como parte essencial do mecanismo da vida, a geradora e o canal entre dimensões. Aquela que traz vida ao planeta e têm a capacidade de sangrar a cada lua e ainda assim, não morrer.
Com a queda das sociedades matrifocais, as guerras e as buscas por poder e prestígio deram lugar à uma religião focada num Deus supremo e impiedoso. A Deusa se desvaneceu junto do feminino em meio às guerras e sua sabedoria pôs-se a dormir no ventre e na alma de todos os seres humanos.
A idade média contrastou um dos períodos mais sombrios e violentos para as mulheres na sociedade e foi propulsora de ideias repressoras e crenças misóginas.
Todos os atributos femininos, antes considerados sagrados, foram fragmentados e distorcidos. A mulher antes reconhecida como uma parte crucial do mecanismo da vida foi silenciada e vista como inferior ao homem. O sangue menstrual passou a ser considerado sujo e o corpo feminino: impuro.
O ventre não mais era considerado o portal de vida na terra e sim o fruto do pecado, sinônimo de castigo e dor às mulheres.
A sabedoria das ervas e o conhecimento da natureza passou a ser considerado perigoso e tido como bruxaria, obrigando as mulheres a silenciarem seus conhecimentos e inibirem sua livre expressão.
Hoje, estamos vivenciando o retorno desses saberes.
Existem mulheres, que agora mesmo, estão despertando e relembrando o poder sagrado que existe no ventre e na alma da Deusa. São essas mulheres que agora resgatam essa sabedoria e se transformam em canais, são as polinizadoras do novo tempo, o batalhão de entrada para a reformulação e retorno à uma sociedade onde a Deusa e o Deus estejam lado a lado.
Resgatar as sabedorias matrifocais não é sobre tornar um lado superior à outro, é sobre relembrar e reconhecer a importância de todas as formas de vida e que cada ser desempenha um papel fundamental nessa grande teia da existência que juntes tecemos.
É tempo de relembrar da sabedoria intrínseca do corpo, da sacralidade da terra, da importância dos ciclos, da magia do ventre ancestral...
Mais uma vez as Deusas despertam para auxiliar a humanidade no retorno ao caminho de volta para casa.
Abre-se para recordar!
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