Estar num corpo mulher em tempos caóticos politicamente e socialmente é um ato de resistência. Falar sobre menstruação, orgasmos, útero, sexualidade sagrada, prazer, fertilidade, ancestralidade, ciclos e espiritualidade feminina é também um ato de coragem e determinação; a determinação da emancipação de existências. Estar num corpo mulher numa sociedade que gira e circunda em torno do homem, tanto na religião, como na política, no social e na família é sobre restaurar espaços. É sobre cavar fundo nas terras vermelhas do corpo selvagem e resgatar os saberes antigos das ancestrais, mulheres pretas, indígenas, benzedeiras, parteiras, curandeiras. Mulheres da mata, brujas, mães, avós, filhas, irmãs, mulheres. Quando falamos sobre ativismo existencial é sobre resistir num corpo que há tanto tempo foi enclausurado e censurado pelo patriarcado, é sobre uivar, rugir e rosnar as vozes e barulhos da libertação de todas nós. Curar as memórias de dor que afligem o meu útero, seja ele físico ou energético, é também sobre cavar e inaugurar a libertação de todas que vieram antes de mim, é sobre demarcar espaços e velejar novos sentidos, é sobre ensinar aos nossos filhes sobre sororidade & sacralidade da terra. É silenciar para ouvir a sabedoria da mata, é honrar a existência de cada partícula de vida, reconhecer a cura da floresta e resguardar as sabedorias curativa das plantas, passar adiante, estender a voz, eternizar dialetos, silenciar conflitos, emoldurar coragem. Existir é meu ato de força, é largar as armas porque cansei de lutar, é sair da batalha para curar minhas guerras internas, é compreender o meu papel como poeira estelar num planeta pequeno em meio a imensidão do universo. É sobre reconhecer a minha miudeza, mas é também sobre reconhecer a grandeza da minha existência. Estar num corpo mulher é missão. Resgatar os ossos, reconstituir a carne, integrar os polos, discernir as sombras, se vestir ora de luz, ora de sombra; ser farol, ser voz, ser dor pra poder sentir, ser ferida pra poder curar, ser raiva pra poder ser impulso, Ser.
Por mim, por todas que vieram antes e por todas que virão depois.
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