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Foto do escritorMarcelle Cordeiro

A dança dos opostos: ser ferida para então ser cura.

Há de se haver escuridão. É necessário cruzar o limiar entre o palpável e o abstrato. Ultrapassar as portas do submundo, adentrar no escuro, atracar nos porões sujos e escondidos da psiquê. Não existe cura sem olhar para a ferida, pois são esses fragmentos não-iluminados que compõe a camada essencial da nossa personalidade. A experiência humana é uma dança entre as dualidades; o bem e o mal, luz e sombra, positivo e negativo, feminino e masculino. Há de se beber o veneno para sanar as dores, não existe caminho de autocura que desvie da floresta úmida que te leva em direção ao verdadeiro eu.


É uma ilusão querer iluminar-se apenas através da luz. É besteira, perca de tempo. A vida na matéria é o caos e o lodo, que levam então à ordem. E é por isso que estamos vivas: um resgate dos fractais perdidos. Um resgate das partículas que se foram; seja por dor, por medo, por trauma ou ilusão. Há se de usar a lamparina da consciência para iluminar esses cômodos afastados. Faz parte. É necessário e essencial.


Na sombra reside a maior força. Através das feridas você encontra a matriz da dor. O ponto central que emerge o veneno, a base do vulcão. E ali você concentra, mergulha, ilumina. Transcende.


Suas feridas não são motivo de vergonha, loba. Você não é mais fraca, pequena ou menos sagrada pelas dores que carrega. Os “erros” são apenas pedras no caminho. Levanta, respira e continua. Ilumina suas dores, você sabe como o fazer. É alquimista desde os primórdios. Transforma o chumbo em ouro, põe luz na sombra, transforma a inconsciência do ego em luz da consciência. Você sabe o caminho. Só é capaz de regozijar-se na luz, quem já andou e atravessou os vales escuros e densos da psiquê.


As Deusas escuras nos ensinam o caminho essencial de retorno ao lar: o enfrentamento e a coragem para evidenciar, sentir e esculpir a ordem interna. O domínio não é feito externamente, é sobre o domínio dos demônios internos, dos medos que assombram e das vozes miúdas e agudas que atravessam a paz. A escuridão é o anoitecer do esquecimento, visita-o para que se lembre de quem você é. Mantenha a luz acesa. Atravessa. Você não está sozinha.


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